“A marronagem, portanto, é menos uma forma de conquista do que de subtração ao poder. As táticas furtivas são táticas de des-captura: a qualquer tentativa de captura, opõem o vazio. É essa potência corrosiva da marronagem diante dos aparelhos de captura e dos simulacros produzidos que chamo de fuga. E, por essa palavra, entendo uma forma de vida e de resistência que, longe do frente-à-frente espetacular da revolta heroica, opera na sombra uma retirada, uma dissolução contínua de si. A fuga é ascese: arte paradoxal da derrota, um desfazer que se aplica tanto às instâncias de dominação quanto à sua reverberação no mais profundo de nós. Qual seria o sentido de uma vida marron hoje em dia? O de uma vida gazeteira sempre construindo fugas do amor ao poder e do devir-fascistas que ele implica.” (Dénètem Touam Bona em Cosmopoéticas do Refúgio. Tradução: Milena P. Duchiade. Cultura e Barbárie. Desterro, 2020. p. 48 e 49)
Nascido em Paris, Dénètem Touam Bona é um daqueles autores afro-europeus de identidade fronteiriça que procuram construir pontes entre mundos ainda distorcidos pela “linha da cor”. É colaborador do Institut du Tout-Monde (centro dedicado à obra de Edouard Glissant) e de revistas como Africultures e Terrestres, e autor de três ensaios filosóficos e literários: Fugitif, où cours-tu? (ed. Presses Universitaires de France, março de 2016) e Cosmopoéticas do réfugio (ed. Cultura e barbarie, setembro de 2020, Brasil). Seu próximo livro, Sagesse des lianes, está previsto para ser publicado no início de outubro de 2021, em conjunto com a exposição coletiva “La Wisdom des Lianes”, que será realizada entre 19 de setembro e 30 de novembro de 2021 no Centre International d'Art et du Paysage de Vassivière, da qual ele é responsável. Nos últimos anos, Dénètem tem colaborado regularmente em projetos criativos, principalmente como dramaturgo.
Leo Gonçalves é poeta, tradutor e performer. Autor dos livros de poemas Use o assento para flutuar (Crisálida, 2018) e das infimidades (in vento, 2004). Aparece na antologia: Poesia hoje: negra, organizada por Ricardo Aleixo para o projeto P-O-E-S-I-A, em 2021. Estreou em 2019 a performance poético sonora “Caboca: um ensaio aberto”. Seus trabalhos performáticos “Em caso de incêndio” e “Poemacumba” foram finalistas do Prêmio Leda Martins em 2017. É pesquisador de literaturas africanas, caribenhas e afro-latinas, tendo traduzido vários autores para o português. Escreve desde 2004 no www.salamalandro.redezero.org.