“O que me empurra para o futuro não é o progresso. A vontade de futuro convida a processos de escavações”. Citar a frase de Cíntia Guedes no início deste texto é, simultaneamente, fazer um alerta e um convite. Num mundo onde as coisas, os arquivos e os acontecimentos se acumulam e se perdem facilmente, olhar para trás pode ser uma das chaves para decifrar os caminhos da contemporaneidade. Não numa visão linear e fechada do tempo. Inspirados pela ideia de sankofa e das temporalidades espiralares, acreditamos ser importante resgatar - ou melhor, escavar - as materialidades dos cinemas passados a fim de usá-las como lente para olhar a produção contemporânea brasileira. Assim chegamos a Lilian Solá Santiago. Diretora já veterana no cinema nacional, Lilian, junta a seus contemporâneos, protagonizou um dos importantes momentos de uma certa historiografia do cinema negro brasileiro. Signatária do Dogma Feijoada, manifesto lançado no Festival Internacional de Curtas de São Paulo de 2000, e autora de mais de uma dezena de documentários premiados no Brasil e no exterior, Lilian traz consigo uma trajetória de valorização da cultura negra e ameríndia como fundante da própria cultura e identidade brasileiras. Por isso, nesta sessão, realizada em parceria com o INDETERMINAÇÕES, plataforma de crítica e cinema negro brasileiro, trazemos dois filmes de Lilian. A escolha se baseou numa vontade dupla, que reúne tanto uma das missões do INDETERMINAÇÕES quanto uma das vocações do Cineclube Mocambo: valorizar a memória do audiovisual produzido por pessoas pretas, por um lado, e investigar as recorrências da diáspora africana no audiovisual e nas tradições nacionais. Eu tenho a palavra, curta de 2011, materializa essa diáspora. O filme registra a persistência da “língua do negro da Costa” em Bom Despacho, cidade do interior de Minas Gerais, e acompanha uma “viagem transoceânica de reconhecimento”, como conta a sinopse, a partir do encontro de duas pessoas singulares. Por sua vez, Balé de pé no chão - A dança afro de Mercedes Baptista, documentário de 2005 codirigido por Marianna Monteiro, não só conta um pouco da história da pioneira da dança afro no país, como recupera contos e memórias daqueles que desbravaram caminhos para que chegássemos aqui. Para além dos filmes em exibição, nossa quarta sessão conta com um debate super especial: dessa vez, uma conversa previamente gravada com a própria cineasta Lilian Solá Santiago e a historiadora, pesquisadora e crítica cultural Lorenna Rocha, uma das idealizadoras do INDETERMINAÇÕES. No papo, um pouco da trajetória de Lilian, suas referências no cinema e as articulações pela demarcação de um cinema produzido por pessoas negras no país. A conversa será liberada no sábado, dia 11, às 18h, no canal do Cineclube Mocambo no YouTube. Assista, comente e compartilhe os filmes em exibição. Desejamos uma boa sessão a todo mundo! (Gabriel Araújo)
“Eu tenho a palavra” é uma viagem linguística em busca das origens africanas da cultura brasileira. O antigo reino do Congo foi a origem da maioria dos africanos escravizados no Brasil que, no cativeiro, criaram diversos dialetos para que pudessem se comunicar livremente. A “língua do negro da Costa” é um desses dialetos, ainda preservado no bairro da Tabatinga, em Bom Despacho, MG. O idioma é composto por um português rural do Brasil-Colônia e línguas do grupo Banto, com predomínio do mbundo, falado até hoje em Angola. Dois personagens - um falante da “língua do negro da Costa” e outro falante de mbundo - nos guiam nessa viagem transoceânica de reconhecimento.
Direção e produção: Lilian Solá Santiago Montagem: Leandro Goddinho Fotografia e Som Direto: Valnei Nunes Trilha: Fernando Alabê Lilian Solá Santiago é documentarista, roteirista e professora de cinema. É autora de mais de uma dezena de documentários premiados no Brasil e no Exterior. Ganhadora do prêmio Willian Greaves Fund 2021, da fundação norte-americana Firelight Media. Integrante do Grupo de Pesquisa LabArteMídia da Universidade de São Paulo, onde é doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais na Escola de Comunicação e Artes – ECA/USP. Atualmente, é coordenadora do Curso de Cinema do CEUNSP (Salto/SP)
O documentário acompanha a singular trajetória de Mercedes Baptista, considerada a principal precursora da dança afro-brasileira. Bailarina de formação erudita, a partir da criação de seu grupo, no início da década de 1950, volta-se para o estudo dos movimentos rituais do candomblé das danças folclóricas. Suas criações coreográficas permanecem até hoje identificadas como repertório gestual da dança afro.
Direção e roteiro: Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro Direção de fotografia e câmera: Thiago Scorza Assistente de fotografia e câmera 2: Pedro Faerstein Produção executiva: Lilian Solá Santiago Direção de produção: Maíra Sala Pesquisa: Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro Direção musical: Lilian Solá Santiago Som direto: Henry Durante Montagem: Felippe Machado, Hugo Gurgel, Alexandre Martins Mixagem: Carlos Akamine Designer gráfico: Sofia Costa Pinto Motoristas: Sérgio e Kleber Produção: Terra Firme Digital Co-Produção: SESC TV Lilian Solá Santiago é documentarista, roteirista e professora de cinema. É autora de mais de uma dezena de documentários premiados no Brasil e no Exterior. Ganhadora do prêmio Willian Greaves Fund 2021, da fundação norte-americana Firelight Media. Integrante do Grupo de Pesquisa LabArteMídia da Universidade de São Paulo, onde é doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais na Escola de Comunicação e Artes – ECA/USP. Atualmente, é coordenadora do Curso de Cinema do CEUNSP (Salto/SP).